Vai Encarar?

Liberdade de Cair

Bailarino caindo em uma pirueta com braços e pernas em movimento formando um arco em um retrato de grande impacto.A foto está em preto e branco e o jogo de sombras contribui para a beleza do conjunto.
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Bailarino caindo em uma pirueta com braços e pernas em movimento formando um arco em um retrato de grande impacto.A foto está em preto e branco e o jogo de sombras contribui para a beleza do conjunto.

Dia desses, às voltas com uma rampa desnivelada e esburacada levei um belo tombo – cadeira de rodas e tudo. Nada de sério, mas, quem estava por perto partiu apavorado pra cima de mim.Nunca tinha visto tantas mãos diante dos meus olhos.

Confesso, fiquei chateada. Gostaria que tivessem dado uma boa risada e, só depois, fossem ver como eu estava. Teriam feito isso se eu não fosse uma pessoa com deficiência.

Estavam bem intencionados, e nem imaginavam que eu gostaria mesmo daquela coisa normal, que acontece quando se toma um tombo que, se vê logo, não foi grave. Ah como eu gostaria…

Antes que se consumasse o resgate desvairado eu disse firme: Peraí! Deixa que eu me “levante”. E fiz isso cantando Vanzolini: “levanta sacode a poeira e dá volta por cima”. E aí aconteceu a gargalhada de que eu precisava. A gargalhada que me incluiu. Que me fez sentir igual a eles, afinal quem nunca tropeçou?

Depois de ouvir os detalhes da minha queda hilária, da minha patetice (adorei isso!), passamos a conversar sobre os problemas de mobilidade urbana, calçadas esburacadas, rampas e corrimões que inexistem, carros sobre as calçadas, entulho, lixo e tudo mais que nos “derruba” – e não apenas quem está sobre rodas. 610325581b50a215e3326852d131ad01

Num passe de mágica, viramos todos, cidadãos, a falar sobre problemas comuns – mesmo que em escalas diferentes.

Afinal, existem entre todos nós especificidades que nos distinguem, a espera do respeito que nos une. Os problemas de mobilidade são de todos, mesmo que atinjam de forma distinta cada grupo de interesse. Isso é igualdade nas diferenças. Isso é inclusão.

 

 

mariana_reisA Bailarina Mariana Reis, tornou-se cadeirante aos vinte anos. Tornou-se Administradora de Empresas e Educadora Física. É Pós Graduada em Gestão Estratégica com Pessoas e em Prescrição do Exercício Físico para Saúde pela Universidade Federal do Espírito Santo. É também atriz, colunista do jornal A Tribuna de Vitória, professora universitária, técnica e árbitra de ginástica artística. Atua como consultora em acessibilidade e gestora na construção e efetivação das políticas públicas para a pessoa com deficiência em Vitória. Acredita na sedução diária de superar limites e ir além do que nos impede – não as pernas, os olhos, os ouvidos – mas o cotidiano. Afinal, temos todos medo de enfrentar o mundo e suas barreiras. E todos temos obstáculos. Vamos encarar?

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3 Comentários

  • Responder
    Janaina
    08/10/2014 as 07:46

    Sabe que eu fico super preocupada quando vejo alguém cair, mas cadeirante eu sempre tenho dúvidas de como ajudar, não quando cai mas no dia dia, espero sempre que a pessoa peça ajuda, pois sei que são extremamente capazes de se virar sozinhas. Será que estou certa?

    • Responder
      Claudia Matarazzo
      08/10/2014 as 08:25

      Janaina,

      Vc está certa – mas, sempre que perceber que existe alguma situação mais complicada, pode perguntar naturalmente: você quer que eu te ajude? perguntar não ofende. O que não dá ( e que eles reclamam) é partir pra cima com mãos ajudando de forma muitas vezes desajeitada.

  • Responder
    Tays C. Almeida
    08/10/2014 as 22:32

    Mariana, vc é extraordinária.

    Tem asas… pra q pernas?

    Ainda é dotada de sabedoria. Enxerga os 2 lados.

    Gente desencanada é outro nível.

    É natural a reação da maioria. Mas, as vezes só cabe a nós o toque. Tipo: Eiii,somos iguais. Acorda.

    Já levantei, sacudi a poeira e dei a volta por cima. Beijo carinhoso pra vc!!!!

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