Minimalismo x Consumo Afetivo
Ao eliminar o excesso, ganhamos clareza e liberdade. No entanto, na prática, o minimalismo nem sempre encontra espaço no cotidiano de quem vê nos objetos além da sua utilidade, também memória, emoção e identidade.
Consumo afetivo. Guardamos cartas antigas, roupas de alguém querido, a louça da avó, brinquedos da infância ou aquele presente de uma amizade que já se foi. Mesmo quando não usamos ou sequer vemos esses objetos com frequência, eles habitam nossas casas como testemunhas silenciosas da nossa história. Jogá-los fora seria como apagar capítulos importantes da nossa vida — e é aí que o minimalismo perde força para o afeto.
O discurso de “menos é mais” colide com a complexidade emocional do que acumulamos. E isso não se trata apenas de nostalgia, mas de pertencimento. Guardar certas coisas nos dá um senso de continuidade, especialmente em um mundo tão instável e fluido. Em vez de priorizar apenas a funcionalidade, o consumo afetivo valoriza o vínculo e o significado.
Nem todo acúmulo é desorganização. Sim pois, existe beleza em uma estante cheia de livros lidos, em uma parede com fotos de gerações, ou em um guarda-roupa que conta histórias de fases da vida. Às vezes, guardar é uma forma de autocuidado e de resgatar quem somos.
Isso não significa que o minimalismo não tenha seu valor — ao contrário. Ele pode ser um excelente exercício de desapego, foco e praticidade. Mas talvez a questão não seja escolher entre minimalismo e afeto, e sim encontrar um equilíbrio. Reduzir o consumo por impulso, sim. Mas manter aquilo que faz sentido emocional, que acolhe, que representa.
Sim porque, mais do que casas limpas, buscamos casas com alma. E, nesse cenário, guardar pode ser, sim, um gesto de amor.










