O fenômeno do “Tem que ter” – nas redes e fora delas
De garrafinhas personalizadas a tênis disputados, passando por cremes, fones, livros e até brinquedos colecionáveis — o fenômeno do tem que ter é um retrato da cultura digital acelerada, que transforma desejo em consumo quase automático.
“Objeto do momento” não é apenas um produto – ele se torna símbolo de pertencimento, atualização e até status. Quem tem, posta. Quem vê, deseja. E o ciclo se retroalimenta em velocidade recorde. Essa lógica, impulsionada por algoritmos e estratégias de marketing altamente segmentadas, cria a ilusão de que consumir é a única forma de estar “por dentro”.
Consequências desse movimento – de cara, a pressão constante para acompanhar tendências pode gerar ansiedade, frustração e sensação de inadequação. Quando o consumo deixa de ser uma escolha consciente para virar uma resposta emocional — mediada pela comparação constante — perde-se o controle sobre o que se compra, por que se compra e para quem se compra.
Além disso, o tem que ter coloca em risco o senso de identidade. Quando todos têm o mesmo item, o mesmo look, a mesma decoração ou o mesmo “lifestyle”, onde fica a personalidade? A estética da internet favorece padrões visuais fáceis de replicar e algoritmos que reforçam mais do mesmo. O resultado é uma uniformização do gosto e uma diluição da autenticidade.
É claro que não há problema em desejar ou comprar algo. Mas o ponto central está na motivação. Você quer isso porque realmente faz sentido para você, ou por que tem medo de ficar de fora? O desejo legítimo é diferente da necessidade fabricada. E, numa era de consumo acelerado, lembrar dessa diferença é um ato de consciência.
Em vez de correr atrás do objeto da vez, que tal observar o que realmente faz sentido no seu estilo de vida, no seu orçamento e nos seus valores? A verdadeira tendência é saber filtrar, escolher com critério e não deixar que o algoritmo dite o que você precisa ter para ser relevante. Porque, no fim das contas, o que vale não é ter o que todos têm — e sim ser quem poucos conseguem ser: alguém com escolhas próprias.