Em tempos de desconfiança, a coerência comunica – Por Cristina Mesquita
Será que estamos vivendo tempos em que a palavra perdeu credibilidade? De discursos que, muitas vezes, não sustentam a caminhada?
Em meio a uma enxurrada de informações, slogans e promessas, cresce uma pergunta silenciosa que paira sobre tudo: em quem e no que podemos confiar?
Estamos, sim, na era da desconfiança. Não é exagero. É constatação.
Desconfiamos de líderes que dizem servir, mas se servem do poder.
Desconfiamos de marcas que prometem propósito, mas entregam apenas performance.
Desconfiamos até de nós mesmos, quando falamos o que os outros querem ouvir, em vez de expressarmos aquilo em que realmente acreditamos.
Desconfiamos da mídia que comunica com a intenção de manipular.
Nesse cenário de tantas dúvidas, algo ressurge com uma força potente e transformadora: a coerência.
Não aquela coerência rígida, que sufoca a mudança ou ignora a complexidade da vida. Mas aquela que nasce da integridade. Que serve de alicerce entre o que se diz, o que se faz e o que se é.
A coerência tem uma linguagem própria.
Não exige adjetivos em excesso, nem efeitos especiais.
Ela comunica porque é verdadeira.
E, num mundo cada vez mais sensível ao falso, o verdadeiro tornou-se urgente e necessário.
Estamos, aos poucos, virando pessoas-autômatos.
Reproduzimos ideias sem refletir, repetimos comportamentos sem sentido, agimos no automático.
Nos afastamos da consciência e da conexão, nos aproximamos da indiferença e da superficialidade.
Comunicar com coerência é um ato de coragem.
É optar pela transparência em vez da performance.
É dominar o conteúdo daquilo que se diz, pois informação é poder.
É compreender que a mensagem só tem valor quando está enraizada em atitudes.
É perceber que reputação não se constrói com frases de efeito, mas com gestos consistentes, intencionais, silenciosos até, mas profundamente autênticos.
Se há algo que ainda nos conecta, é a confiança.
E ela nasce do alinhamento entre discurso e prática.
Nasce da escolha consciente de ser gentil e ético, moral e íntegro.
Se quisermos construir um mundo melhor, mais justo, mais sensível e mais humano, precisamos ir além da boa comunicação.
É hora de viver aquilo que comunicamos.
Porque, ao refletirmos, podemos até concluir que palavras convencem por instantes.
Mas o que transforma de verdade é a coerência.
Cristina Mesquita é jornalista, cerimonialista e graduada em Direito. Diretora de Comunicação da Associação Brasileira de Profissionais de Cerimonial (ABPC), é coautora do livro ‘Comunicação & Eventos’ e especialista em organização de eventos. Possui MBA em Gestão de Eventos pela ECA-USP.




