1

Ser só educado não basta

Sorrisos automáticos, elogios ensaiados, cumprimentos protocolares: tudo parece correto, mas quase nada é verdadeiro. Quando a etiqueta vira teatro, é hora de reinventar a delicadeza.

Ser gentil não é seguir um manual – é estar presente. Há uma diferença profunda entre dizer “como vai?” por hábito e perguntar genuinamente, esperando ouvir a resposta. Entre oferecer ajuda por convenção e fazê-lo por empatia real. A etiqueta não deveria ser uma máscara social, mas uma expressão de respeito.

O mundo mudou – e com ele, o modo como nos relacionamos. A delicadeza, hoje, precisa ir além da forma: ela precisa de conteúdo. Não se trata mais apenas de “parecer educado”, mas de agir com verdade, com atenção, com propósito. Um “obrigado” sincero tem mais elegância do que qualquer cumprimento ensaiado.

Questionar gestos automáticos é um ato de coragem – especialmente em tempos em que a polidez serve, muitas vezes, como fachada para indiferença. A nova etiqueta não é feita de regras rígidas, mas de sensibilidade. É entender o contexto, perceber o outro, ter tato sem precisar de roteiro.

Reinventar a delicadeza é devolver alma à convivência. É trocar o desempenho pela presença, o protocolo pelo afeto, a formalidade pelo cuidado.
A etiqueta que importa é a que nasce de dentro — aquela que não precisa ser lembrada, porque é natural. A verdade é que, a educação pode ser aprendida; a delicadeza, só pode ser sentida – e a sensação é única e preciosa.




Agenda: Mais do que tempo, é relacionamento

Cada mensagem de confirmação, cada lembrete de reunião ou cada retorno enviado a um cliente ou paciente pode transmitir acolhimento, profissionalismo e confiança — ou exatamente o oposto.

Não se trata apenas de marcar compromissos. É sobre como comunicar esses compromissos. A escolha das palavras faz diferença: um “aguardamos você” soa muito mais atencioso do que um “favor comparecer”. Um lembrete cordial pode reduzir ansiedades e reforçar a percepção de cuidado. E acredite: na prática, pequenos detalhes de linguagem, podem definir grandes experiências. Afinal de contas é muito mais agradável ouvir “vou dar prioridade para nossa reunião, nem que seja um pouco mais curta” do que “vou conseguir uma brecha na agenda…

A gestão de agenda é também gestão de expectativas. Por exemplo: quando recebemos uma mensagem personalizada e respeitosa, nos sentimos melhor cuidados. Ou quanto percebemos clareza e organização na comunicação, fortalecemos  a confiança nesse relacionamento. Já uma abordagem seca ou desorganizada passa a impressão de descaso, mesmo sem essa intenção.

Por isso, é preciso enxergar a agenda como algo que vai além da produtividade. É parte da experiência que entregamos. Ao escolher palavras que transmitam clareza, cordialidade e respeito, transformamos compromissos em vínculos e reforçamos os valores que queremos associar à nossa imagem profissional.
A agenda não é apenas sobre tempo: é sobre relacionamento. Ela mostra como valorizamos as pessoas e como queremos ser lembrados. Não são só compromissos que preenchemos, mas experiências que construímos — e cada palavra usada nesse processo pode abrir ou fechar portas.




Oversharing – riscos dos excessos para sua imagem pessoal

Existe uma linha tênue entre dividir momentos e escancarar a intimidade. É aí que entra o conceito de oversharing — o excesso de exposição pessoal online, que pode comprometer não apenas a privacidade, mas também a reputação e a imagem profissional.

Oversharing acontece quando alguém publica, com frequência ou sem filtro, detalhes íntimos da vida pessoal, pensamentos impulsivos, desabafos, questões familiares ou emocionais. Embora a internet ofereça um espaço de expressão e conexão, ela também tem memória permanente e audiência imprevisível. Uma postagem feita no calor da emoção pode, em poucos segundos, alcançar colegas de trabalho, recrutadores, clientes ou parceiros — e nem sempre da maneira desejada.

A imagem pessoal nas redes é uma extensão da presença social de cada indivíduo. E, assim como cuidamos da forma como nos apresentamos ao vivo, devemos zelar pela coerência e intenção do que mostramos digitalmente. Isso não significa ser falso ou construir uma versão idealizada de si, mas sim adotar consciência comunicativa: pensar antes de postar, avaliar o impacto, mas, principalmente,  refletir sobre a necessidade de compartilhar determinada informação. Respirar (e questionar-se) antes de postar…

Para preservar a imagem pessoal nas redes, é importante estabelecer limites. Separar o que é íntimo do que é público, selecionar com cuidado as pautas que se deseja abordar e manter consistência com os valores que se quer comunicar. Ter um perfil autêntico não exige exposição extrema. Pelo contrário, muitas vezes, é a discrição que fortalece a credibilidade.

Compartilhar é uma escolha — e como toda escolha, traz consequências. O oversharing pode gerar empatia momentânea, mas também pode minar relações, fechar portas e enfraquecer a percepção de profissionalismo. Cuidar da própria imagem é, antes de tudo, um exercício de responsabilidade e autoconsciência. Afinal, quem fala demais, entrega mais do que gostaria. E, nas redes, tudo o que se publica pode — e será — interpretado.




Aperto de mão, beijo ou abraço?

Em tempos em que os limites pessoais estão mais valorizados, interpretar corretamente cada situação tornou-se ainda mais relevante e saber quando oferecer a mão, um beijo ou um abraço é uma habilidade social importante — pois demonstra sensibilidade, respeito e adequação.

Aperto de mão – é o cumprimento mais universal e neutro. Amplamente utilizado em ambientes profissionais, transmite formalidade, cordialidade e confiança. Em reuniões de negócios, entrevistas, apresentações e eventos corporativos é a escolha mais segura — especialmente quando ainda não há familiaridade entre os envolvidos. O ideal é que seja firme, breve e acompanhado de contato visual- sem apertos excessivos nem toques demorados.

Beijo no rosto – comum na cultura brasileira, é mais frequente em contextos sociais e informais. O número de beijos (um, dois ou até três, dependendo da região) e o momento adequado para usá-lo variam. Ele costuma ser usado entre amigos, familiares ou conhecidos com algum grau de intimidade.

No ambiente corporativo, o beijo no rosto deve ser evitado, a menos que haja grande proximidade e informalidade entre os colegas — e mesmo assim, com atenção às preferências da outra pessoa.  Até mesmo em reuniões com pessoas de fora da empresa, mantenha a formalidade.

Abraço – é mais íntimo e afetivo. Mais apropriado em encontros familiares, entre amigos próximos ou em situações emocionais — como reencontros ou momentos de apoio. Em ambientes profissionais, o abraço pode parecer invasivo, especialmente se não houver um relacionamento pessoal consolidado. Caso ocorra, deve ser breve, respeitoso  e sem tapas ruidosos nas costas entre os homens. Importante: sempre com sensibilidade ao espaço do outro.

Observar o ambiente, a relação com a pessoa e o grau de formalidade esperado ajuda a evitar constrangimentos e cria uma convivência mais harmoniosa. Quando houver dúvida, opte sempre pela opção mais neutra e observe os sinais do outro. O cumprimento ideal é aquele que respeita, acolhe e conecta — sem ultrapassar fronteiras.




A cortesia começa com o silêncio

Mas o uso indiscriminado do celular em ambientes públicos tem gerado desconforto e ruído nas interações sociais. Assim como aprendemos regras de convivência à mesa ou no trabalho, é fundamental desenvolver uma etiqueta digital que reflita respeito pelo espaço e pelas pessoas ao nosso redor.

Volume – o uso de fones de ouvido é indispensável em locais públicos – para ouvir áudios ou assistir vídeos. E para ligações simples fale baixo ou use também os fones. Simples assim: ninguém precisa participar involuntariamente de conversas alheias ou escutar trilhas sonoras e podcasts no transporte, na sala de espera ou na fila do banco. A cortesia começa com o silêncio.

Comportamento em interações presenciais – estar fisicamente com alguém e ao mesmo tempo imerso no celular transmite desinteresse e falta de consideração. Evite manusear o aparelho enquanto conversa especialmente em encontros sociais, reuniões ou refeições. A atenção é uma forma de respeito — e, hoje, um sinal valioso de gentileza.

No trabalho ou estudando – manter o celular em modo silencioso ou vibratório é essencial. Atender ligações pessoais em voz alta ou responder mensagens durante compromissos profissionais compromete a imagem de profissionalismo.

Teatros, cinemas, igrejas ou cerimônias – o ideal é desligar o aparelho ou ativar o modo avião. A luz da tela ou o simples toque pode interromper momentos importantes e incomodar as pessoas.

Fotos ou vídeos de pessoas desconhecidas – fazer sem permissão é uma violação de privacidade. O fato de estar em um ambiente público não torna essa prática aceitável. A etiqueta moderna envolve ética e empatia digital.

O uso consciente do celular em locais públicos vai além de boas maneiras — é um exercício de convivência e empatia. Quando usamos a tecnologia com responsabilidade, mostramos não só educação, mas também consideração pelo outro. E essa é, sem dúvida, uma das formas mais nobres de civilidade. Se o celular é parte da nossa vida, que seja também um reflexo da nossa melhor versão.