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A magia dos livros – e a Vida na entrelinhas

Vale a pena. Quem consegue mergulhar na leitura com a profundidade e foco que qualquer obra merece, entende que a leitura é necessária e, literalmente um alimento a alma sem falar no quesito informação, educação e cultura.

Muitos clássicos da literatura mundial vão além de entreter e nos fazem refletir profundamente sobre a vida, abordando temas como amor, propósito, ética e resiliência. Independente da época em que foram escritos, esses ensinamentos podem ser aplicados hoje no nosso dia a dia, oferecendo sabedoria para lidarmos com as situações que surgem no trabalho, nas relações e nos nossos desafios pessoais.

Aqui oito livros que trazem lições poderosas e como podemos usá-las na prática:

Os Irmãos Karamázov, Fiódor Dostoiévski – essa obra mergulha em dilemas existenciais e questões morais, como: o bem e o mal, a fé e o perdão. É um verdadeiro manual para entendermos nossas próprias crises e conflitos internos. Na prática, a história nos ensina sobre responsabilidade pessoal e as consequências das nossas escolhas. É aquele empurrão para refletirmos sobre como nossas ações afetam os outros e a importância de encarar nossas questões internas.

Meditações, Marco Aurélio – o imperador-filósofo romano nos ensina a manter a calma e a disciplina, mesmo em tempos de caos. O estoicismo presente nesse livro é um guia para lidar com adversidades. A ideia aqui é focar no que podemos controlar e não gastar energia com o que está fora do nosso alcance. Uma lição valiosa para mantermos o equilíbrio emocional, principalmente em momentos estressantes.

Siddhartha, Hermann Hesse – busca por iluminação e autoconhecimento nos traz reflexões sobre espiritualidade e equilíbrio entre o material e o imaterial. Esse livro nos inspira a buscar paz interior e entender que os altos e baixos são parte da vida. O aprendizado verdadeiro vem da experiência e da aceitação.

O Senhor dos Anéis, J.R.R. Tolkien – mais que uma saga (quase uma bíblia) épica, Tolkien fala sobre amizade, sacrifício e a luta entre o bem e o mal. A força da lealdade e a resistência às tentações são centrais na história. O que podemos trazer para a realidade é que pequenas ações podem gerar grandes impactos. A obra nos lembra da importância das amizades verdadeiras e da coragem para enfrentar desafios.

Crime e Castigo, Fiódor Dostoiévski – outro clássico que explora as consequências psicológicas e morais de nossas ações. A luta interna do personagem principal é um estudo sobre arrependimento e redenção. A mensagem é clara: arrependimento e responsabilidade pelos nossos atos são essenciais. Viver com culpa é pesado, e buscar redenção é o caminho para encontrar a paz.

Orgulho e Preconceito, Jane Austen – os perigos dos julgamentos apressados e a importância do respeito e igualdade nas relações. Empatia e humildade são lições essenciais aqui. Não devemos nos guiar por estereótipos ou aparências, e sim valorizar as pessoas pelo que realmente são.

A Revolta de Atlas, Ayn Rand –  sobre o poder da independência, empreendedorismo e responsabilidade pessoal. Rand defende que o progresso da sociedade depende de indivíduos que buscam excelência. A lição é sobre agir com integridade e buscar sempre o nosso melhor. Não se acomodar e ir atrás do nosso máximo potencial.

A República, Platão – reflete sobre a natureza da justiça e o papel dos cidadãos na construção de uma sociedade ideal. Nos incentiva a pensar sobre nossa responsabilidade social.

Calma, você não precisa ler todos – embora, todos sejam obras consistentes e construtivas. São mais do que histórias, eles nos ajudam a refletir, a lidar com os desafios e a fazer escolhas mais conscientes. Cada um deles traz uma visão sobre a humanidade e como podemos nos desenvolver pessoalmente…

Essa é a mágica da literatura – ela transforma enquanto entretém e diverte. Insisto que vale você escolher pelo menos 1 e ler até o fim. E se não gostar, insista com outro, certamente em algum momento você vai perceber que a leitura transformou alguma coisa em você ou sua vida. nem que seja apenas aquele momento de paz no qual você se entregou a ela!




1984, de Orwell e o nosso presente

O romance 1984, de George Orwell, publicado em 1949, apresentou ao mundo uma distopia assustadora, onde um governo totalitário controla cada aspecto da vida de seus cidadãos.

A obra retrata um Estado onipresente, que manipula a verdade, vigia a população incessantemente e pune qualquer pensamento divergente. Mais de sete décadas depois, até que ponto essa visão sombria da sociedade se tornou realidade?

Vigilância e controle da informação – no universo de 1984, o “Grande Irmão” observa tudo, monitorando indivíduos por meio de teletelas e informantes. Atualmente, vivemos em uma era digital em que a privacidade se tornou um conceito fluido. Redes sociais, dispositivos inteligentes e sistemas de reconhecimento facial podem ser utilizados para rastrear nossas ações e preferências. Governos e corporações coletam e analisam nossos dados em larga escala. Aí te pergunto: segurança ou controle de liberdade?

Manipulação da verdade – no livro, o Ministério da Verdade reescreve histórias, apaga eventos e molda a realidade de acordo com os interesses do Partido. Nos dias atuais, assistimos a fenômenos semelhantes por meio da proliferação de fake news, deepfakes e revisões históricas tendenciosas. A informação se tornou uma ferramenta de poder, e a verdade, muitas vezes, depende de quem a está difundindo.

Controle do pensamento e cultura do cancelamento – o conceito de “duplipensamento” descrito por Orwell reflete a capacidade de aceitar simultaneamente ideias contraditórias sem questionamento. Em nossa sociedade, debates políticos polarizados e a cultura do cancelamento podem restringir a liberdade de expressão, levando indivíduos a se autocensurar para evitar represálias. O medo de discordar e ser isolado socialmente cria um ambiente de conformidade forçada. Por favor, não faço isso. Tenha opinião!

O poder da propaganda – em 1984, a propaganda do Partido reforça a lealdade ao governo e molda a percepção da realidade. Hoje, somos bombardeados por algoritmos que filtram o que vemos online, criando bolhas de informação que reforçam crenças preexistentes e dificultam o pensamento crítico. A influência da mídia sobre a opinião pública nunca foi tão poderosa e, assim como no livro, ela pode ser usada para direcionar comportamentos e manipular emoções.

Ainda há esperança? Espero que sim!

Se Orwell estivesse vivo hoje, possivelmente veria muitos dos elementos de sua obra refletidos na nossa sociedade, mas ainda há diferenças fundamentais. Ao contrário dos personagens, ainda temos voz ativa, acesso a múltiplas fontes de informação e a capacidade de questionar e debater. O futuro não está escrito, e cabe a nós resistirmos à manipulação, protegermos a verdade e garantirmos que a liberdade não se torne apenas uma lembrança apagada pelo tempo. Afinal, a melhor forma de evitar um futuro orwelliano é nunca deixar de pensar por conta própria.




Corpos Secos – o livro que me fez surtar

A ação se passa num Brasil devastado por uma praga misteriosa, onde corpos humanos se decompõem, mas não morrem de verdade. É classificado como romance, mas para mim, é terror. No mínimo, suspense. Envolvente e, às vezes, um pouco assustador. A leitura não é leve, vemos isso logo nas primeiras linhas.

O tema apocalipse é tratado de uma forma muito visível e “sentível”. De fato, entramos naquele mundo, pois é passado no nosso país, conhecemos os lugares, passamos por eles.  Sentimos o que cada personagem está sentindo, é muito real. Nunca na minha vida, joguei um livro longe – esse foi o primeiro – mas não por ser ruim, muito pelo contrário. Juro!!!

É como os autores nos dessem três tapas na cara para nos lembrar que o que estamos lendo não é um conto de fadas com final feliz! Fiquei dois dias sem ler mais nada, muito chocada. Mas vale muito a leitura e vocês vão entender o porquê. É adrenalina pura do começo ao final.

Uma coisa que nos prende é a mudança de escrita em cada capítulo, de primeira para terceira pessoa. Lógico, com quatro autores, cada um cuidando de um personagem, é de se esperar que sejam estilo diferentes. Achei muito legal. Cada um contando o seu ponto de vista do apocalipse zumbi.

Os autores são tão geniais que mesmo os capítulos sendo curtos – no máximo 10 páginas – eles conseguem nos fazer criar algum tipo de sentimento pelo personagem. E que por um lado, muda drasticamente ao longo da história. Com referências bibliográficas, memes e uma certo nível de ironia.

É um livro com vários questionamentos e as reflexões. E, cada um vê de um jeito e tá tudo certo. É assim que funciona a leitura. Lembrando sempre: estamos num APOCALIPSE DE CORPOS SECOS (ZUMBIS) e nunca passamos por isso.

Será que estamos nos acostumando a viver absurdos? Essa é uma das grandes questões levantadas. Olhar pela janela e ver corpos desidratados sem sentir nada… Será que, em meio a tanta tragédia e crise, a gente vai se tornando insensível? No livro, o absurdo vira rotina, e isso nos faz pensar se, na nossa realidade, já estamos num ponto em que nada mais choca, seja por indiferença ou puro cansaço.

Outra questão pesada: é possível abrir mão dos nossos princípios morais para sobreviver? A sobrevivência em Corpos Secos exige escolhas difíceis. Até que ponto você conseguiria se manter ético em meio ao caos total? Se seu melhor amigo virasse um “corpo seco”, você seria capaz de acabar com o sofrimento dele, mesmo que isso te fizesse sentir um assassino? O livro nos coloca nesse dilema ético o tempo todo: quando é aceitável quebrar nossos princípios?

E qual seria o limite para garantir a própria sobrevivência? O que você faria para continuar vivo? No livro, os personagens vão ao extremo, usando banha de corpos mortos, questionando até onde se pode ir para não morrer de fome. Mas será que há um limite? Ou o instinto de sobrevivência fala mais alto que qualquer regra moral?

Em Corpos Secos, a ideia da inocência das crianças é desafiada. Como manter a inocência em um mundo onde a sobrevivência é a prioridade número um? E talvez a pergunta não seja só “para onde vai a inocência?”, mas sim: como podemos, como sociedade, proteger essa parte tão essencial das nossas crianças em tempos de crise?

Outro ponto abordado é o colapso das instituições. O governo, no livro, está completamente perdido, deixando a população à mercê da própria sorte. E aí surge o dilema: em quem confiar quando as instituições falham? Quem detém o poder quando o Estado não consegue mais garantir a segurança básica? O livro é uma crítica pesada à fragilidade das estruturas políticas e sociais em tempos de crise.

Corpos Secos nos obriga a pensar em como reagiríamos em uma situação de colapso. Será que somos mesmo capazes de manter nossa humanidade quando o mundo desmorona ao nosso redor? E você, quem seria nesse cenário? A pessoa que luta para manter seus valores ou alguém que faz o que for preciso para sobreviver?

Serviço – Título Corpos Secos

Autores – Luisa Geisler, Marcelo Ferroni, Natalia Borges Polesso e Samir Machado de Machado

Gênero – distópia mix de terror e ficção científica 

Editora – Alfaguara




Fahrenheit 451, Ray Bradbury

Escrito por Ray Bradbury  em 1953, Fahrenheit 451 é uma da ficção distópica que continua atual. Situado em uma sociedade onde livros são proibidos e queimados, o livro aborda temas como censura, superficialidade e a busca pela felicidade – onde já  ouvimos falar sobre isso?…

No auge da Guerra Fria, Bradbury vê o medo e o controle em torno do comunismo, especialmente durante o macartismo (de 1950 a 1957, milhares de americanos foram acusados de serem comunistas ou simpatizantes e tornaram-se objetos de agressivas investigações abertas pelo governo o indústrias privadas. A censura e a repressão de ideias eram comuns). A história da obra reflete essa preocupação, mostrando uma sociedade onde o conhecimento é suprimido para manter uma falsa “paz social”.

No livro, as pessoas vivem alienadas, imersas em distrações tecnológicas e entretenimento superficial, sem espaço para reflexão – para mim, “temidas telas infinitas”. O protagonista, Guy Montag, um bombeiro que queima livros – não deveria apagar? -, questiona a utilidade de sua função e descobre que o conhecimento é essencial para uma vida plena e significativa. Bradbury nos leva a pensar sobre o valor do pensamento crítico e o perigo de uma sociedade que rejeita o conhecimento em favor do entretenimento vazio.

Um dos temas centrais de Fahrenheit 451 é a busca incessante por felicidade. Na história, as pessoas acreditam que estão felizes porque estão sempre ocupadas com distrações, mas na verdade, estão vazias. Montag percebe que a felicidade verdadeira só pode ser encontrada por meio da reflexão e do autoconhecimento – algo que muitas vezes sacrificamos no mundo moderno, cheio de notificações e entretenimento instantâneo. Ou até mesmo do ócio, aquele tempo sozinho, sem fazer nada, absolutamente nada.

Hoje, embora não queimemos livros, enfrentamos uma forma diferente de censura. A autocensura e o consumo superficial de conteúdo, sejam por meio de redes sociais ou entretenimento rápido, nos afastam de discussões profundas. A busca por satisfação imediata muitas vezes nos impede de refletir sobre o que realmente nos faz felizes, assim como na sociedade distópica do livro.

No final, Bradbury nos alerta sobre os perigos de uma vida superficial. O conhecimento e a reflexão são fundamentais para nossa liberdade e felicidade verdadeira. Em tempos de hiper conectividade e distrações constantes, Fahrenheit 451 nos lembra de que precisamos parar, pensar e valorizar o que realmente importa: o pensamento crítico e o conhecimento profundo.




O que reaprendi com Harry Potter

Harry Potter foi, e ainda é, um fenômeno mundial –  não há o que negar. Mudou uma geração (me incluo aqui, sou uma louca apaixonada potterhead). Tinha 12 anos quando li pela primeira vez, encantada com a história e o universo mágico e, de tempos em tempos voltava a ler. A cada lançamento de edição eu comprava só pra ter aquela edição específica.  Finalmente, passei mais de 10 anos sem reler a saga…Até que o fiz.

Hoje aos quase 40 anos, o olhar está muito mais maduro e muitas sutilezas que nos passavam despercebidos  não passam mais!

E olha a surpresa que tive.

  1. Amor: a lição mais básica de todas. Quem consegue viver ser amor? Independente do relacionamento.

  • Amizade: você tem verdadeiros amigos? Aqueles a quem pode confiar a sua vida? Ou não abandonar aquelas pessoas que são importantes demais para serem deixadas de lado no meio do caminho.

  • A vida é dura: essa é a realidade. Podemos precisar de um café, cinco minutos para chorar e vamos sim, seguir em frente – sempre. Somos fortes o suficiente para isso. Só precisamos descobrir isso, e quando acontece, é fantástico, uma virada de chave.

  • Enfrentar nossos medos: temos que arriscar e ser corajosos. Encarando o medo de frente, percebemos que ele não era tão assustador assim. É “tá com medo, vai com medo mesmo!”

  • Lutar pelo que se acredita: mesmo que seus amigos/família não apoiem você. É difícil (e quem disse o contrário?), mas defenda suas crenças, ideias e ideais.

  • Nunca deixar de aprender: conhecimento nunca é demais e nunca é tarde para aprender o que for.

  • Respeitar as diferenças: JK nos ensinou que empatia com todos é o básico para a convivência. É respeitar as diferenças, pois só com a união de todos conseguimos evoluir.

  • Tentar melhorar sempre:  o que eu acho certo hoje, amanhã posso não achar mais e está tudo bem mudar de opinião. Só estamos tentando melhorar e crescer.

  • Ação e reação: se você for fazer parte na vida de alguém, faça isso de maneira produtiva. Qual marca vou deixar no coração dessa pessoa, o que ela vai lembrar de mim?

  1. Trabalho em equipe: levar em consideração a opinião de todos, e a trabalhar em conjunto.

  1. Não julgue: muitas vezes estamos enganados. Aprendi que existem 3 lados da história: lado A, lado B e o lado da verdade. E se eu não estava lá para ver, não posso dar minha opinião.

Lembrando que discordo dos posicionamentos pessoais de J.K Rowling, mas a saga criada por ela tem luz própria e pra mim, não deve sofrer interferência das ações da autora na vida real.

Essas são só algumas reflexões sobre Harry Potter a obra mas, existem muito mais. Se vocês quiserem, venho com mais depois.