1

A leitura como prática de pausa e reconexão com o essencial

Em tempos de urgência constante, em que tudo parece exigir resposta imediata, a leitura surge como um refúgio silencioso — um gesto quase de resistência. Ler é mais do que decifrar palavras: é desacelerar, permitir-se um tempo de pausa e abrir espaço para o pensamento. Em um mundo que valoriza a produtividade e a velocidade, redescobrir o prazer de um livro nas mãos é um convite à reconexão com o essencial.

A etiqueta contemporânea, também inclui a forma como lidamos com o tempo, a atenção e o cuidado com nós mesmos. Fazer da leitura um hábito é, de certo modo, praticar elegância emocional. É aprender a estar presente — longe das notificações, das telas e das distrações. Cada página virada é um exercício de foco e sensibilidade, um gesto de respeito consigo e com o que se escolhe absorver.

Livros não interrompem, não pedem curtidas nem respostas instantâneas. Eles convidam. E quem aceita esse convite descobre o poder de refletir antes de reagir, de compreender antes de julgar. A leitura nos ensina empatia, amplia repertórios e refina a forma como nos comunicamos — habilidades essenciais para a convivência e o bom comportamento social.

Resgatar o hábito da leitura, portanto, é mais do que cultivar cultura; é exercitar presença. É criar um ritual de pausa em meio ao ruído, um espaço para ouvir a própria mente e nutrir o espírito com histórias, ideias e perspectivas que nos tornam melhores.

Em um tempo em que tudo passa rápido demais, ler é um ato de gentileza com a própria alma. É escolher qualidade em vez de quantidade, profundidade em vez de pressa. Retomar o contato com os livros é reconectar-se com o essencial: o tempo, o silêncio e a humanidade que habita em cada palavra.




O que o livro “Ainda Estou Aqui” nos mostra

Ao contar a história de sua mãe, Eunice Paiva, que enfrenta o Alzheimer, e do desaparecimento de seu pai, Rubens Paiva, durante a ditadura militar, Marcelo constrói uma obra que vai muito além de sua biografia e toca em temas universais e ainda muito atuais. Mesmo sendo uma história do passado, as reflexões trazidas pelo livro têm grande relevância nos dias de hoje.

Memória e verdade histórica – ainda enfrentamos debates sobre os crimes da ditadura, e o Brasil luta para resgatar sua memória coletiva. No atual cenário, em que revisões históricas são feitas e, muitas vezes, fatos do período militar são negados ou distorcidos, o livronos lembra da importância de lembrar e confrontar o passado, evitando que os mesmos erros se repitam.

Discussão sobre saúde mental e envelhecimento – a experiência da mãe de Marcelo com o Alzheimer reflete desafios enfrentados por muitas famílias atualmente, em um Brasil com uma população idosa crescente e questões de saúde mental cada vez mais presentes. O cuidado com familiares que perdem sua autonomia, a progressiva perda de quem ainda está vivo, são temas que ressoam com muitas pessoas nos dias de hoje.

A resistência e a luta por direitos humanos – em tempos de polarização política, o exemplo de Eunice é uma referência para quem ainda batalha por direitos civis e liberdade.

Reconstrução familiar – as transformações nas dinâmicas familiares, sejam causadas por questões políticas, sociais ou por doenças, são um reflexo de muitas realidades contemporâneas

Vulnerabilidade e força feminina – a luta de Eunice pelo marido e pela família, mesmo enfrentando doenças, perdas e um contexto político adverso, reflete as lutas das mulheres contemporâneas por igualdade e empoderamento. Hoje, com o movimento feminista ganhando mais espaço, sua história ressoa com a luta por direitos das mulheres.

O livro é um lembrete do perigo do autoritarismo e da importância de preservar a democracia e a memória coletiva. É um convite para olharmos para nossa história, nossas famílias e nosso futuro, com a sensibilidade de quem entende que, mesmo diante das maiores perdas, ainda é possível estar presente, resistir e lembrar.




Como Enfrentar o Ódio, de Felipe Neto

Nas redes sociais, nas resenhas ou até nas notícias, a intolerância virou rotina. Nesse cenário turbulento Felipe Neto, um dos maiores influenciadores do Brasil, decidiu lançar o livro “Como Enfrentar o Ódio”.

Não é só um livro para desabafar sobre os haters que ele colecionou ao longo dos anos: Felipe vai além e nos convida a pensar sobre a raiz desse ódio crescente e, claro, como podemos fazer para não ser engolido por ele.

Quando lançou o livro, Felipe Neto já estava no topo da influência digital no Brasil, falando abertamente sobre política, comportamento e o que mais estivesse pegando fogo no momento. Ele não apenas compartilha as porradas que levou (e ainda leva) nas redes sociais, mas estende o debate para uma discussão bem mais ampla: como o ódio online está afetando todos nós?

O livro vem em um momento de alta tensão política no Brasil. O país estava dividido entre extremos (especialmente durante o governo Bolsonaro) quando as diferenças políticas pareciam aumentar o uso de discursos inflamados. 

Felipe, que nunca fugiu de polêmicas, aproveitou essa brecha para provocar uma reflexão importante: como estamos lidando com tudo isso?

O mais interessante é que, no livro, apesar de abordar política, Felipe não está defendendo um partido ou bandeira específica.  Ele quer falar de algo maior: como o ambiente político, principalmente quando polarizado, incentiva a intolerância. 

E acerta ao dizer que esse ódio está longe de ser só brasileiro. Nos Estados Unidos, com Trump, vimos a mesma coisa — pessoas se atacando, principalmente nas redes sociais. Toca também num ponto relevante: o papel das plataformas digitais. Ele critica como Facebook, Twitter (nunca vou chamar de X) e Instagram nem sempre conseguem (ou querem) controlar a disseminação de ódio.

As redes, que deveriam ser ambientes de debate saudável, acabam virando campos de batalha.

O livro não é só baseado em sua vivência. Ele traz várias referências de peso, como a psicóloga Sherry Turkle, que fala sobre a desconexão emocional causada pela tecnologia, e Jonathan Haidt, que estuda como as redes sociais influenciam nossa saúde mental e comportamento.  Esses estudos ajudam a entender como o ódio cresce e se espalha nesse ambiente digital.

Um ponto forte do livro é quando Felipe fala sobre a desumanização. Ou seja, como nos esquecemos que, do outro lado da tela, tem uma pessoa real, com sentimentos e vida própria. Essa desconexão facilita que a gente xingue, ataque e espalhe ódio sem pensar nas consequências. Para ele, esse é o núcleo do problema: a falta de empatia.

Trazendo isso para o cenário atual : Ano passado tivemos eleições para prefeito, e agora, toda vez que a política entra em cena, o debate se transforma numa verdadeira guerra.  Candidatos e eleitores se dividem em extremos, e o discurso de ódio, infelizmente, é uma das ferramentas mais usadas para desqualificar o adversário. Os debates foram uma verdadeira palhaçada e alguns viraram caso de polícia. Olha onde chegamos!

O livro, nos dá um alerta importante: não podemos cair nesse jogo. Ele reforça que a chave para enfrentar o ódio é encontrar um equilíbrio entre empatia e ação. Não dá para simplesmente ignorar ou fugir desse problema. Temos que ser parte da mudança, promovendo discussões mais conscientes e responsáveis, seja nas redes ou nas conversas do dia a dia.

O recado final é claro: se queremos um ambiente mais saudável, seja na internet ou na vida real, o combate ao ódio começa com cada um de nós. E, como Felipe conclui, essa mudança é urgente!




Livro Mesa Brasileira – Lançamento em Curitiba