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Até tu Moro?

Quando, em 2016, o então Juiz Sergio Moro declarou em entrevista que jamais ocuparia cargo político, (quase) todos acreditaram afinal,  estava ali uma unanimidade: alguém sério, aparentemente incansável no combate a corrupção, jovem e forte o suficiente para ser idealista e – o mais importante – com a pena na mão e a devida autoridade conferida pela magistratura.

Quando, pouco mais de um ano depois ele aceitou ir a Mônaco receber uma (até merecida) homenagem de sua Alteza Sereníssima o Príncipe Alberto de Mônaco aqui, nesse mesmo espaço, questionei a sabedoria da decisão.

Mas, quem sou eu para aconselhar um mito a não parecer vaidoso?

E eis o país ainda um tanto perplexo e até um tanto temoroso diante do seu “Sim” a Bolsonaro.

E nisso estão quase todos de acordo: estaríamos mais bem servidos com um Magistrado forte, isento e independente do que com um super Ministro compondo equipe com esse núcleo do presidente eleito Bolsonaro onde não passa um dia sem que um desautorize o outro e o outro desminta o um. Uma bateção de cabeça como nunca se viu.

De juiz a Super ministro –  a rapidez  com que o Juiz aceitou o convite, fez muitos emitirem opiniões variadas: ele “aceitou porque é ambicioso”, ou “ele aceitou porque é um idealista”  ou ainda “ele aceitou porque é muito vaidoso”  e finalmente: “ele aceitou porque é ingênuo, não sabe onde está se metendo.”

Os que o admiram  incondicionalmente dizem que ele aceitou porque é um patriota. De minha parte, acredito que aceitou por todos os motivos acima, menos o patriotismo. Vejamos:

Ambicioso – Moro é humano: um juiz jovem que se viu alçado a Santo em meio a um turbilhão político em um momento crucial. Não fosse ambicioso não teria se jogado de corpo e alma, lutado contra tudo e todos em uma tarefa que parecia fadada a não vingar.

Idealista – há que ser idealista para acreditar que, aceitando um superministério (que ainda não se sabe se vai funcionar) conseguirá acabar com a corrupção… prefiro acreditar que é idealista a crer na outra hipótese,  a megalomania.

Vaidoso – aos 46 anos cortar caminho por um super ministério e, de quebra, assumir aos 48 uma vaga no STF é tentação demais até para quem não é vaidoso – quem nunca?

Ingênuo – não há como acreditar que ficando sob as ordens de um Presidente que gosta de dar a última palavra e com companheiros tão díspares quanto se afiguram os colegas do futuro Governo,  ele será independente e com a tranquilidade necessária para dar conta de 5 dificílimas pastas sobre as quais terá responsabilidade. Só sendo um tanto ingênuo.

Moro é humano e um pouco de tudo isso. Mas daria mais mostras de patriotismo se continuasse Juiz – o firme e inabalável Juiz que parecia ser.

Ao se juntar ao novo Governo escolheu um lado – ainda que bem intencionadamente. E deu munição a todos os que o acusavam de politizar a prisão de Lula, mergulhando o país (mais uma vez) em discussões acaloradas, fanáticas ( de ambos os lados) e tomadas de partido.

Tudo o que não precisamos. Patriota seria se tivesse resistido a tentação de proximidade ao Poder (passageiro) e permanecido com seu imenso poder de magistrado Isento. Do qual acaba de se despir.




Vai votar no medo ou na raiva?

 

Nunca na História desse país foi tão difícil votar. E segura que lá vem texto desabafo!

Antes de seguir deixo claro que nem penso em fazer apologia a esse ou aquele candidato – apenas uma reflexão,  que talvez me ajude a decidir.

No cenário polarizado que vemos hoje, provavelmente teremos   Haddad e Bolsonaro no segundo turno. Se assim fosse, pode até parecer fácil para alguns: Bolsonaro claro, ele é o novo, firme, não tem medo de falar o que pensa e é “ de direita”.

Como assim cara pálida? Onde é que vários mandatos como deputado definem alguém como “novo”? E o que me garante que novo é bom? E aquelas frases homofóbicas e machistas – sério mesmo que dá pra esquecer?!? Quem fala muito o que pensa fala também sem pensar. E acaba revelando justamente o que pensa de fato…

Direito e esquerda – Ah mas ele “pelo menos é de direita” ouço muita gente falar. E desde quando ser de direita, por si só garante alguma coisa? Hitler e Mussolini também eram…

Ok, ok, não vamos demonizar o capitão. Vejamos no outro polo a opção “de esquerda,”  Haddad. Nunca votei na esquerda, talvez por  vício de minha criação burguesa de família industrial e capitalista. Portanto, quando ele foi eleito prefeito em São Paulo, não achei graça.

Quatro anos depois várias coisas haviam melhorado em nosso entorno e sua gestão foi, no mínimo, equilibrada… Em seu lugar foi eleito João Dória, de direita, que largou a prefeitura 1 ano depois – e a cidade desastrosamente abandonada, em frangalhos. Eu que o diga, morando na avenida Paulista…

a foto mostra várias pessoas na av paulista, como se estivessem em uma praia. Tem mulheres de biquini, homens sem camisa, gente sentada em cadeiras de praia... Ao fundo, podemos perceber os prédios da avenida

Concordo, que é difícil votar em um partido que fez o que fez com o nosso dinheiro. E cujo líder,  ignorou a imensa popularidade que tinha (e tem) e literalmente roubou quaisquer sonhos e ilusões de valores éticos que porventura ainda tivéssemos na época de sua posse.

Por outro lado, quem viaja pelos sertões do país como eu, ouviu da grande maioria das pessoas durante todos esses anos que “ a vida melhorou” que “saí do aluguel” etc.

Incrível como, com tudo o que foi surrupiado de nosso suado dinheirinho ainda deu para fazer alguma coisa pelo povo. E nem os “de direita” reclamaram lembram?

A eleição da Raiva – pensando em tudo isso continuo sem saber em quem votar. Estamos todos com muita raiva: dos políticos, dos juízes, dos candidatos, uns dos outros…

Fora o fato que muita gente trata eleição como jogo de futebol e defende suas posições com a cega paixão de uma torcida organizada. Eu heim?

Um amigo confessou seu medo do pensamento radical e raso de Bolsonaro mas… disse ter mais medo do comportamento vingativo do PT de Haddad – pois caso ganhassem, voltariam “com sangue nos olhos”…

Menos raiva gente e menos paixão! Nem uma nem outra são boas conselheiras: ao contrário, se extinguem quase sempre no arrependimento. E o medo, paralisa e não leva a nada.

Por enquanto, entre o medo e a raiva fico com a compaixão – pelos esquecidos do nosso país evidentemente, que estão além do medo e da raiva – e quase, também, da esperança.

Duas crianças de costas , abaixadas, a menina de blusa branca e o menino tem uma bandeira do Brasil supere as costas