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Nossa Senhora de Aparecida – e um pitaco sobre Fé

Imagem da Nossa Senhora Aparecida, pintura de Djanira.

Pintura de Djanira

Todos os anos quando se comemora o aparecimento de Nossa Senhora de Aparecida, padroeira do Brasil, faço uma rápida reflexão sobre o milagre da fé.

Porque milagre é – não tenho a menor dúvida.

Confesso que, apesar de Católica, hoje não vou muito a missa. Hippie que fui, em algum momento da adolescência, abandonei esse hábito, pois achava que “se Deus existia não fazia questão de formalidades como missas, templos e rituais”.

Adolescente é assim mesmo e, muitas vezes ao longo da vida Deus me provou que, embora talvez gostasse sim, de um pouquinho mais de respeito, não iria me abandonar por um detalhe desses.

Mas voltando a Fé. Ou se acredita ou não. Escolhi acreditar. Tenho motivos para isso e pronto.

Ainda como Chefe do Cerimonial do Governo de São Paulo, tiver o privilégio de organizar a recepção ao Papa Bento XVI em São Paulo. Ora aquele Papa, longe de ser risonho e popular como o atual Papa Francisco, era visto por todos com quem conversava como alguém mais conservador, fechado, com temperamento germânico – das antigas.

De modo que, com ou sem fé, quando entrei no elevador do Palácio dos Bandeirantes com sua Santidade e o então Governador José Serra, tratei de ficar  quietinha – repassando mentalmente as tarefas do encontro reservado que se seguiria.

E fui pega de surpresa pelo olhar de luz do Santo Padre. Sem uma palavra, com passos saltitantes, sem o menor esforço parecia transformar a atmosfera tensa em um momento mais leve.

Depois do encontro, o Governador Serra o levou de improviso para visitar uma exposição de Arte Sacra no Palácio dos Bandeirantes. A visita não estava prevista no roteiro de modo que, quando Serra me pediu que explicasse a mostra a Sua Santidade, quase enfartei!

Tratei de falar o que sabia enquanto frenética, chamava a curadora da mostra pelo rádio. Pois jamais imaginara um dia bater um papinho com alguém tão próximo a Deus.

foto do Papa Bento XVI junto ao Governador José Serra e Claudia Matarazzo

Passado o sufoco despedi-me de forma respeitosa e protocolar. E juro que não imaginei: senti, muito mais do que vi o olhar brejeiro, quase moleque do Papa Bento XVI ao se despedir.

Atrás da aparência veneranda e sisuda, uma força muito mais poderosa também estivera presente. O que explica a leveza dos passos e a luz do olhar.

Fé: ou se tem ou não.