Por décadas, o conglomerado francês LVMH foi sinônimo de crescimento constante e hegemonia no mercado de luxo.
Com marcas como Louis Vuitton, Dior, Givenchy e Tiffany & Co. sob suas asas, a empresa consolidou-se como uma força quase intocável. Mas em 2025, também começou a sentir os reflexos da maior crise já enfrentada pelo setor de luxo global. Alguns fatores se destacam no centro dessa turbulência.
A retração drástica da demanda chinesa – Em um contexto de desaceleração econômica na China e de um nacionalismo de consumo em alta, os compradores chineses começam a rever prioridades — e a gastar menos em marcas estrangeiras.
Tarifas adicionais impostas por Donald Trump – impactam diretamente as margens de lucro e o preço final ao consumidor americano. Como resposta, muitas marcas precisarão rever suas estratégias de precificação ou até repensar sua presença em um dos maiores mercados consumidores do mundo.
Tensão entre escassez e escala – o luxo verdadeiro não pode ser massificado sem perder valor simbólico. A exclusividade, a espera, o inacessível são elementos centrais da experiência de luxo.
Quando a escala entra, a mágica sai. No mesmo sentido, há o embate entre o mito — o universo simbólico e aspiracional das marcas — e a planilha, com sua busca por lucro constante e crescimento acelerado.
As marcas menores sofrem ainda mais para manter exclusividade e rentabilidade em um contexto que exige reposicionamentos ágeis, revisão de estoques e cortes estratégicos.
Segundo Kapferer a sobrevivência do luxo depende de manter sua lógica original, que não se baseia na escala, mas na escassez, não mira o consenso, mas o mito. E, sobretudo, não se trata de atender pedidos, mas de criar desejo.
Ou seja: luxo não é sobre entregar o que o cliente quer — é sobre surpreendê-lo com o que ele nem sabia que queria.
Kapferer aponta ainda três pilares estratégicos para manter o luxo como luxo:
Elevação contínua do preço – reforça a percepção de valor e exclusividade;
Criação proativa de desejo – em vez de responder a tendências ou opiniões do consumidor;
Resistência ao consenso – preservar identidade e visão, mesmo que isso vá contra as pressões de mercado.
Mais do que produtos, o novo luxo exigirá experiências, histórias autênticas e uma reconexão com valores contemporâneos — como sustentabilidade, herança cultural e exclusividade emocional, não apenas financeira.
A crise atual aponta que o futuro do luxo passará menos por cifras e mais por relevância. E quem não entender isso a tempo, pode perder muito mais do que participação de mercado — pode perder o próprio significado.
A verdadeira força do luxo está em sua capacidade de resistir e continuar raro em um mundo que quer tudo acessível. De manter o mistério em tempos de superexposição. De não seguir o cliente — mas de conduzi-lo.
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