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Inclusão e Diversidade na prática

Com o tempo, finalmente as pessoas entenderam que ela é  fundamental para promover respeito às diferenças, estimular a criatividade e fortalecer a colaboração entre pessoas com diferentes origens, culturas e perspectivas.

Ambientes inclusivos e diversos, tem sido cada vez mais valorizados no mercado de trabalho e na sociedade em geral, e requerem de todos uma postura de respeito, empatia e flexibilidade.

Respeito as diferenças –  é a base de qualquer ambiente inclusivo. Isso envolve reconhecer e valorizar as particularidades de cada indivíduo, seja em termos de gênero, etnia, idade, orientação sexual, religião ou condição física. Não se trata apenas de tolerar essas diferenças, mas de enxergá-las como uma fonte de aprendizado e crescimento mútuo.

Escuta ativa – significa prestar atenção genuína às opiniões, sentimentos e necessidades dos outros, sem julgamentos. Ela promove o diálogo respeitoso e cria uma atmosfera em que cada pessoa pode expressar suas ideias sem medo de ser ignorada ou invalidada.

Seja consciente da linguagem – é importante usar uma linguagem neutra e respeitosa, evitando termos ofensivos ou excludentes. Ao conversar, procure utilizar pronomes adequados e evite expressões que possam marginalizar ou desrespeitar determinado grupo. Se tiver dúvidas sobre como se referir a alguém, pergunte de maneira respeitosa, demonstrando interesse em aprender e se ajustar.

Estimule a colaboração e a empatia – ela ajuda a enxergar as situações a partir da perspectiva do outro. Incentivar a troca de experiências e o trabalho em equipe contribui para a construção de soluções mais inovadoras e inclusivas.

Evite o preconceito inconsciente – é um conjunto de crenças ou suposições que podemos ter sem perceber, e que podem influenciar nossas atitudes. Em ambientes inclusivos, é importante reconhecer esses preconceitos e trabalhar para eliminá-los. A autoconsciência e o questionamento constante de nossos próprios julgamentos ajudam a evitar comportamentos discriminatórios, mesmo que involuntários.

Inclusão ativa – além de respeitar as diferenças, é necessário agir de forma proativa para incluir todas as pessoas principalmente aquelas que costumam ser sub-representação ou marginalizadas. Isso significa garantir que todos tenham a oportunidade de participar de discussões, oferecer apoio a colegas que enfrentam barreiras ou simplesmente incentivar a diversidade de vozes em decisões importantes.

Criar ambientes inclusivos e diversos requer, principalmente, uma atitude aberta ao aprendizado constante. Tornam-se espaços mais ricos e produtivos onde todos  sentem-se valorizados e respeitados em sua individualidade. A inclusão e a diversidade são fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa, e cabe a cada um de nós adotar comportamentos que reforcem esses valores diariamente.




Na direção dos mesmos direitos

Acrescente ao processo de aquisição do veículo uma grossa camada de burocracia, muito vai e vem, muita roda de cadeira para gastar. São tantas etapas a cumprir que a felicidade custa a aparecer.

E quando o assunto é o test-drive? Aí a distância entre desejo e certeza fica muito inalcançável. Isso porque não existe no Espírito Santo, Estado onde vivo, nenhuma concessionária com carro adaptado para a pessoa com deficiência fazer a voltinha dos sonhos com o modelo que deseja comprar. Acredita?

 

 

Test-drive ainda é sonho –  minha experiência se deu nesta semana, senti na pele o que é testar sem dirigir. E sempre foi assim. Nunca existiu um carro com adaptação nas lojas. Combinei com o vendedor que, solícito, trouxe o carro até minha casa para fazer o teste. Resolvi perguntar, mesmo sabendo a resposta: Está adaptado? Com cara de espanto e desolado, respondeu: Não.

Antes de entrar, olhei o porta-malas e constatei que não teria problemas quanto à minha cadeira de rodas. Me transferi imediatamente e com facilidade para o carona para apreciar o carro. Se para o cego, o bom seriam os olhos, para o cadeirante o bom seria caminhar, para os surdos, os ouvidos, no test drive o bom seria dirigir. Como tomar a melhor decisão se não consigo saber o desempenho do carro, como é a transferência da cadeira para o banco do motorista, e outras informações sobre o produto que quero comprar?

Promover a acessibilidade é simples – se para as demais pessoas essa avaliação se dá na prática, para as pessoas com deficiência, no caso física, ficam apenas as hipóteses. Sem poder experimentar o carro, a desistência quase sempre é o caminho. Ou o risco é a opção. Quando falamos em inclusão de pessoas com deficiência, muitos ainda relacionam o assunto à pena, migalhas e caridade. Ah, já tem o desconto dos impostos, e isso basta, você deve estar pensando. Sobre esse tema, dos descontos, podemos falar também. Aliás, tem sido um imbróglio desde o ano passado.

Foram centenas de anos em que a pessoa com deficiência viveu em isolamento, exclusão e invisibilidade e não é fácil – ainda – mudar. E pensar que pessoas com deficiência têm o direito de fazer test-drive para avaliar sua compra, deve ser algo tão fora da gestão das concessionárias, quanto é para nós inadmissível tal conduta. E olha que é tão rápido resolver isso. Promover a acessibilidade é bem mais simples do que parece.

Alô, concessionárias!!!

Listei alguns itens que se avalia quando se faz, na prática, um test-drive: direção, câmbios, motor, suspensão, freios, visibilidade, se a cadeira cabe no porta-malas, posição do motorista, ar-condicionado, inovação, respeito, equiparação de oportunidade, direitos, dignidade, acolhimento, autonomia e felicidade.

Tenho certeza de que esses itens, caso estejam presentes no teste, ainda que necessitem de ajustes, permanecerão para sempre na agradável experiência da compra do carro novo e dos sonhos.




Nós, nossas batalhas e a guerra

Djamila Ribeiro, escritora

“O lugar social não determina uma consciência discursiva sobre esse lugar. Porém, o lugar que ocupamos socialmente nos faz ter experiências distintas e outras perspectivas”. A frase de Djamila Ribeiro, filósofa, feminista negra e escritora, faz parte do seu livro O que é lugar de fala? lançado em 2017. Nele, Djamila apresenta um panorama histórico sobre as vozes que foram historicamente interrompidas. A partir disso, é possível questionar: quem tem mais chances de falar (e ser ouvido) na sociedade?

Yulia Klepets

Uso este espaço para abrir diálogo com você que me lê e me permite colocar na mesa as nossas pautas. Para resolver minha curiosidade (e preocupação) em relação às pessoas com deficiência que estão vivendo uma guerra na Ucrânia, fui pesquisar e olha o que descobri: a população ucraniana com deficiência é de 2,7 milhões de pessoas e as condições de acessibilidade para evacuação são precárias. Não há estrutura e por isso são forçadas a ficar em casa, sem rumo e desamparadas.

Países distantes, realidades próximas – o Fórum Europeu da Deficiência divulgou uma carta aberta aos chefes das instituições europeias, aos chefes de Estados europeus, russos e ucranianos e à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), para alertar sobre a situação dramática em que estão vivendo essas pessoas. A carta chama a atenção também para as mulheres com deficiência, pelo risco de violência sexual, e para as crianças expostas a abusos e abandono. Das pessoas com deficiência que vivem em instituições, segregadas de sua comunidade, entre elas estão 82 mil crianças com deficiência, que correm um risco enorme de serem esquecidas.

De acordo com a Inclusion Europe, uma instituição que atua em 39 países, o abandono de pessoas com deficiência, principalmente a intelectual, vem acontecendo a cada dia mais e de forma terrível. Muitas continuam presas em Kiev, ou melhor, em Kyiv – em respeito à nação que está sob ataque russo neste momento e que chama a capital de seu país em ucraniano,  Київ (pronunciado ki-iv).

Tempos sombrios, esperança entre névoa – indo mais fundo em minha pesquisa, encontrei no site da ONU a notícia sobre Yulia Klepets, moradora de Kiev, que está isolada em seu apartamento junto com sua mãe de 82, com restrições de mobilidade, e sua filha Aryna, de 25 anos, que é autista. As três estão cercadas pelo confronto e próximo ao local onde moram houve um grande estrondo. Um prédio a 200 metros de sua casa foi atingido, abrindo um grande buraco, de onde surgiram fogo e fumaça. Os detritos voaram ao redor. Com a explosão, Yulia contou que sua filha Aryna entrou em choque e parou de se mexer.

Hannah Arendt

Acompanhar os desdobramentos da trágica situação da Ucrânia é sentir um bocado de angústia e indignação. É refletir sobre o processo histórico e ideologias que impedem um novo começo, um começo que integre a essência do ser humano, e, sobretudo, que abra caminhos para a libertação e a liberdade. Vejo a obra da cientista política, Hannah Arendt (1906 – 1975), presente nas questões contemporâneas que estamos presenciando. Num trecho do livro sobre o totalitarismo, ela disse: “Vivemos tempos sombrios, onde as piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança”.

Precisamos recolher as cinzas – o momento nos exige um escudo, palavras que nos defendam, precisamos de conhecimento, de bandeiras que sinalizem as urgências, para que nossos esforços não sejam dispersados nem nossas lutas. Minha torcida e orações são para que o terror cesse fogo imediatamente. E que a falta de coerência das justificativas para os ataques ao povo ucraniano encontre a esperança e a compaixão. Que as catástrofes do passado não sejam esquecidas e que a lógica da intolerância, do ódio e da ganância encontre a resistência da liberdade e da humanidade.

Que o medo seja a proteção e a esperança a munição. Que no feriado da Semana Santa possamos ter paz. Porque neste carnaval, só vimos as cinzas que uma guerra é capaz de produzir.

 

 

 




Recebendo uma Pessoa com Deficiência em Casa

Desenho colorido comos se fosse jogo de sombras com várias pessoas: algumas em pé, outras com bengala, outras ainda em cadeira de rodas, e um com um cão guia. As cores são fortes: pink, vermelho, coral, verde água e amarelo cítrico. A imagem é de um grupo alegre e harmonioso.

Nossa Casa – para quem gosta de receber, abrir a casa para os amigos é uma coisa que traz um prazer genuíno. Mas esse prazer pode se converter em embaraço se ele não estiver devidamente preparado para atender a todas as necessidades de seus convidados.

Assim, em vez de preparar sua casa pensando apenas no conforto e na beleza do lugar, você terá outras duas prioridades:

  • acessibilidade dos lugares
  • mobilidade de quem vai circular

Identificando as necessidades – um cadeirante provavelmente precisará de espaços maiores de manobra ao passo que para alguém com deficiência visual será simpático descrever o local e seus acessos. Já um surdo ou pessoa com deficiência auditiva será mais bem atendido se a atenção da dona da casa estiver focada com mais precisão às suas necessidades para que não fique isolado da conversa ou do grupo.

Convide sem medo – qualquer reunião (mesmo um encontro a dois) começa no convite. Pergunte como ele vai vir, se virá acompanhado e, se for o caso (se morar em apartamento) desça para recebê-lo.

Preparando as crianças– as crianças também devem ser preparadas no sentido de facilitar a vida da visita. Elas podem ser ensinadas a respeitar a deficiência de seu amigo tratando exatamente como trataria alguém sem deficiência – ou seja com naturalidade. Mas é importante que elas saibam das eventuais dificuldades que seu amigo pode encontrar. Caso elas façam muitas perguntas, relaxe. O menor dos problemas de uma pessoa com deficiência é responder as eventuais perguntas de uma criança, que, afinal de contas está interessada nela. Deixe que conversem e depois, se perceber que o pequeno está sendo inconveniente, intervenha.

Lembre – se: é fundamental que a pessoa sinta que está sendo esperada com prazer e não com preocupação.




Tóquio te espera, Jéssica!!!

Jessica Messali (foto twitter @jessparatleta)

Estava pronta para vencer mais uma vez. Só que no início de julho, ela estava em Portugal para mais uma competição antes do torneio. Mas foi fora das pistas, e dentro de uma sauna, que Jéssica viu o sonho de ganhar uma medalha olímpica se distanciar: a atleta se acidentou com queimaduras de segundo e terceiro grau nos dois pés.

Quando soube da notícia, confesso que não consegui tirar meu pensamento dela. Não somente pela dedicação e empenho para os jogos olímpicos que batem à porta, como também por ser cadeirante como ela. Senti-me frágil, desprotegida, impotente diante da constatação do quanto somos pequenos e finitos.

Jessica Mesalli (foto: Twitter @jessparatleta)

Como encarar um sonho desmoronando – na vida há situações que não combinam com explicações. Nesse momento, para afastar os pensamentos negativos, o sorriso no rosto e a manutenção da calma foram as soluções para Jéssica encarar as notícias difíceis que vieram juntas com as queimaduras. E a mais dura de ouvir e aceitar: a amputação dos dedos.

Longe da família, isolada, e sem visitas por conta da pandemia, Jéssica passou onze dias lidando com todo esse turbilhão de coisas que atravessaram de forma tão rápida seu caminho quanto seus recordes nas provas. O que tinha por garantido, parecia não ser mais atingível. Tóquio parecia ainda mais longe.

No esporte, área intensamente ligada à minha história, tenho compreensão do verdadeiro significado da palavra SUPERAÇÃO! Aliás, foi no esporte onde mais fui testada na capacidade de superar.

Jessica Messali foto Twitter @jessparatleta

Entre perdas e ganhos – correr, pedalar e nadar, o corpo pede movimento. Mas o que a mente exige quando vivenciamos tantos sentimentos é coragem. Sabemos que depois de toda luta árdua, o sabor da vitória é bem mais prolongado e que arriscar é viver plenamente. Mesmo sem termos as receitas para a resolução das situações desafiadoras que enfrentamos na vida, tudo que carregamos dentro de nós, nossas experiências, nos ajudam a transformar perdas em ganhos.

Minha admiração pela atleta, mulher, cadeirante, só aumenta. E como sempre falo para ela em suas provas, estarei na torcida. Acredito na sua recuperação. E tenho certeza de que a forma como escolheu encarar essa fase, com equilíbrio, serenidade e calma, farão a diferença para ela seguir em frente. Não temos respostas para tudo e não podemos perder tempo tentando entender por que não aconteceu como programado. Um ou dois passos para trás não significam recuar, e sim impulsionar. Portanto, Jéssica, olhe para frente. É pra lá que você está indo. O escritor Augusto Branco diz: “vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve”. Erros e acertos fazem parte desse desafio chamado vida. Honremos nossa caminhada.