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Corpos Secos – o livro que me fez surtar

A ação se passa num Brasil devastado por uma praga misteriosa, onde corpos humanos se decompõem, mas não morrem de verdade. É classificado como romance, mas para mim, é terror. No mínimo, suspense. Envolvente e, às vezes, um pouco assustador. A leitura não é leve, vemos isso logo nas primeiras linhas.

O tema apocalipse é tratado de uma forma muito visível e “sentível”. De fato, entramos naquele mundo, pois é passado no nosso país, conhecemos os lugares, passamos por eles.  Sentimos o que cada personagem está sentindo, é muito real. Nunca na minha vida, joguei um livro longe – esse foi o primeiro – mas não por ser ruim, muito pelo contrário. Juro!!!

É como os autores nos dessem três tapas na cara para nos lembrar que o que estamos lendo não é um conto de fadas com final feliz! Fiquei dois dias sem ler mais nada, muito chocada. Mas vale muito a leitura e vocês vão entender o porquê. É adrenalina pura do começo ao final.

Uma coisa que nos prende é a mudança de escrita em cada capítulo, de primeira para terceira pessoa. Lógico, com quatro autores, cada um cuidando de um personagem, é de se esperar que sejam estilo diferentes. Achei muito legal. Cada um contando o seu ponto de vista do apocalipse zumbi.

Os autores são tão geniais que mesmo os capítulos sendo curtos – no máximo 10 páginas – eles conseguem nos fazer criar algum tipo de sentimento pelo personagem. E que por um lado, muda drasticamente ao longo da história. Com referências bibliográficas, memes e uma certo nível de ironia.

É um livro com vários questionamentos e as reflexões. E, cada um vê de um jeito e tá tudo certo. É assim que funciona a leitura. Lembrando sempre: estamos num APOCALIPSE DE CORPOS SECOS (ZUMBIS) e nunca passamos por isso.

Será que estamos nos acostumando a viver absurdos? Essa é uma das grandes questões levantadas. Olhar pela janela e ver corpos desidratados sem sentir nada… Será que, em meio a tanta tragédia e crise, a gente vai se tornando insensível? No livro, o absurdo vira rotina, e isso nos faz pensar se, na nossa realidade, já estamos num ponto em que nada mais choca, seja por indiferença ou puro cansaço.

Outra questão pesada: é possível abrir mão dos nossos princípios morais para sobreviver? A sobrevivência em Corpos Secos exige escolhas difíceis. Até que ponto você conseguiria se manter ético em meio ao caos total? Se seu melhor amigo virasse um “corpo seco”, você seria capaz de acabar com o sofrimento dele, mesmo que isso te fizesse sentir um assassino? O livro nos coloca nesse dilema ético o tempo todo: quando é aceitável quebrar nossos princípios?

E qual seria o limite para garantir a própria sobrevivência? O que você faria para continuar vivo? No livro, os personagens vão ao extremo, usando banha de corpos mortos, questionando até onde se pode ir para não morrer de fome. Mas será que há um limite? Ou o instinto de sobrevivência fala mais alto que qualquer regra moral?

Em Corpos Secos, a ideia da inocência das crianças é desafiada. Como manter a inocência em um mundo onde a sobrevivência é a prioridade número um? E talvez a pergunta não seja só “para onde vai a inocência?”, mas sim: como podemos, como sociedade, proteger essa parte tão essencial das nossas crianças em tempos de crise?

Outro ponto abordado é o colapso das instituições. O governo, no livro, está completamente perdido, deixando a população à mercê da própria sorte. E aí surge o dilema: em quem confiar quando as instituições falham? Quem detém o poder quando o Estado não consegue mais garantir a segurança básica? O livro é uma crítica pesada à fragilidade das estruturas políticas e sociais em tempos de crise.

Corpos Secos nos obriga a pensar em como reagiríamos em uma situação de colapso. Será que somos mesmo capazes de manter nossa humanidade quando o mundo desmorona ao nosso redor? E você, quem seria nesse cenário? A pessoa que luta para manter seus valores ou alguém que faz o que for preciso para sobreviver?

Serviço – Título Corpos Secos

Autores – Luisa Geisler, Marcelo Ferroni, Natalia Borges Polesso e Samir Machado de Machado

Gênero – distópia mix de terror e ficção científica 

Editora – Alfaguara




Da Caça à Pratos Elaborados

No início da civilização, a caça era fundamental para a sobrevivência. Animais selvagens como veados e javalis eram o prato principal de muitas refeições, especialmente em sociedades nômades e nas primeiras comunidades agrárias.

Na Idade Média, a caça continuava sendo importante, especialmente entre os nobres, que a viam não apenas como fonte de alimento, mas também como um esporte que demonstrava status. Nos banquetes da realeza, faisões e cervos eram servidos com orgulho e já começava a surgir um toque de sofisticação, com especiarias e molhos.

Renascimento – especialmente na França e na Itália, a culinária começou a se tornar uma verdadeira arte. A caça ainda estava presente, mas as carnes começaram a ser preparadas de forma muito mais refinada. Técnicas como marinar e rechear ganhavam destaque, e a urbanização trouxe consigo um aumento na criação de animais domesticados. Isso fez com que a dependência da caça diminuísse gradualmente.

Símbolo de poder – durante o reinado de Luís XIV, na França, a comida e tudo o que o envolvia, era um evento, já que a refeição tornou-se símbolo de poder e sofisticação. Foi nessa época que a caça começou a perder espaço para pratos elaborados por chefs que serviam à nobreza. Regras de etiqueta foram formalizadas e as refeições preparadas com mais cuidado se tornaram a norma nos jantares da alta sociedade.

Revolução Industrial –  o acesso a alimentos domesticados aumentou, especialmente nas áreas urbanas e cidades. A caça, que antes era uma prática vital, passou a ser vista mais como um hobby. Agora, carne de animais como bovinos, suínos e aves de criação se tornou o centro das refeições da classe média.

Hoje, a caça é uma atividade bastante controlada, e o consumo de carne de caça é restrito. Em muitas culturas, a caça ainda é mais uma tradição ou um esporte, mas nas grandes cidades, praticamente toda a carne consumida vem de animais domesticados.

A transição da caça como fonte principal de alimento para pratos mais sofisticados preparados nas cozinhas foi um processo que durou séculos. E hoje a sofisticação na gastronomia e o desenvolvimento da agricultura mudaram completamente a forma como nos alimentamos.

Essas mudanças refletem não só a evolução da cozinha, mas também a forma como passamos a ver a gastronomia – antes uma uma necessidade vital e hoje em um patamar de arte, indo além dos sabores,  com acessórios, decoração  e etiqueta específica da chamada mesaposta.




Tchau 2023!!!

Vamos dar uma parada para descansar um pouquinho e voltamos com tudo dia 10/01/2024!!!




Machismo empacado

Com minha filha adolescente tive que rever uma série de conceitos: muito mais evoluída e corajosa do que eu, Valentina não deixava barato. Hoje,  jovem advogada de 26 anos, sempre me espanto com sua coragem e lucidez argumentativa.

Encontrei um texto que fiz há exatos 7 anos, com frases machistas garimpadas em várias publicações e reunidas no “El País”. Repito aqui algumas delas para que vejam o quanto evoluímos pouco: aliás, nada… Continuamos ouvindo frases infames – e quase sempre deixamos pra lá, pois, se reagirmos com firmeza a resposta é chula e rápida: “parece louca, deve estar com TPM…” E o cinismo passa por todas as categoria, veja só:

Os distraídos

– Mas como posso ser machista, se adoro as mulheres!;

– Não posso ser machista, se nasci de uma mulher!

Os justos e igualitários

 – Nem machista nem feminista, igualitário;

– Deveríamos chamar de humanismo, porque é mais inclusivo;

– Apoio o feminismo, mas quando você pede a igualdade, está dando postos imerecidos a inúteis apenas porque são mulheres.

 Os cínicos espertinhos

 – Sou a favor do feminismo, mas alguém deveria falar dos homens que foram mortos por suas esposas no ano passado;

– Sou a favor do feminismo e não das feminazis“;

– Se vocês querem a igualdade, por que não reclamam que entram de graça nas discotecas?.

Os Fofos ignorantes

 – Eu ajudo em casa;

– Como posso ser machista, se minhas melhores amigas são mulheres?;

– Não sou machista, mas prefiro ter colegas de trabalho homens – porque nos entendemos melhor.

Os pseudointelectuais

 – Não sou machista nem feminista. Nenhum ismo é bom;

– Se você fosse realmente uma feminista, reclamaria da violência e não de bobeiras;

– Como homem feminista, não entendo por que deve haver espaços mistos onde não posso entrar. Vocês precisam de nós para a luta.

Os brucutus sem noção

– Em minha casa não há machismo, minha mãe é quem manda;

– Não sou machista. Nunca bati em uma mulher.

Essa última uma pérola, não? E demonstra claramente o grau de condescendência e boçalidade que aturamos fazendo carinha boa. Não faça mais. Não faça nunca. Não compactue.

E responda, sim. Sem briga, sem barraco – mas se preciso for, com muito alarde! E com firmeza e propriedade – que é como sempre conquistamos nosso espaço. E quem sabe, as próximas gerações entenderão que igualdade não se trata de competir e sim, de respeitar o outro – independente de gênero. Mas não deixe barato: a cultura do estupro começa com esse tipo de gracinha.




Mãe!

Mãe não acerta sempre, mas é incansável nas tentativas.

Erra – claro, mas pouco. E não tem medo de tentar de novamente – e novos caminhos.

Mãe não tem receita- mas tem um remédio infalível: colo amoroso.

Obrigada, Mami Poderosa!