1

Ser só educado não basta

Sorrisos automáticos, elogios ensaiados, cumprimentos protocolares: tudo parece correto, mas quase nada é verdadeiro. Quando a etiqueta vira teatro, é hora de reinventar a delicadeza.

Ser gentil não é seguir um manual – é estar presente. Há uma diferença profunda entre dizer “como vai?” por hábito e perguntar genuinamente, esperando ouvir a resposta. Entre oferecer ajuda por convenção e fazê-lo por empatia real. A etiqueta não deveria ser uma máscara social, mas uma expressão de respeito.

O mundo mudou – e com ele, o modo como nos relacionamos. A delicadeza, hoje, precisa ir além da forma: ela precisa de conteúdo. Não se trata mais apenas de “parecer educado”, mas de agir com verdade, com atenção, com propósito. Um “obrigado” sincero tem mais elegância do que qualquer cumprimento ensaiado.

Questionar gestos automáticos é um ato de coragem – especialmente em tempos em que a polidez serve, muitas vezes, como fachada para indiferença. A nova etiqueta não é feita de regras rígidas, mas de sensibilidade. É entender o contexto, perceber o outro, ter tato sem precisar de roteiro.

Reinventar a delicadeza é devolver alma à convivência. É trocar o desempenho pela presença, o protocolo pelo afeto, a formalidade pelo cuidado.
A etiqueta que importa é a que nasce de dentro — aquela que não precisa ser lembrada, porque é natural. A verdade é que, a educação pode ser aprendida; a delicadeza, só pode ser sentida – e a sensação é única e preciosa.




Etiqueta e o verdadeiro Luxo

É mais do que comportamento ou educação – embora seja um assunto derivado dos mesmos.

Para entender sua importância no cotidiano, talvez ajude um olhar mais atento aos 3 pilares nos quais ela se apoia: Bom senso, naturalidade e afetividade.

Bom senso – tudo o que se refere a etiqueta tem a ver com bom senso ou seja, é pensado para facilitar a vida, jamais para complicar. As regras se baseiam em “mão e contra mão”. Se estamos falando de rotas de um evento, são pensadas para facilitar o fluxo. Se for sobre o lado do botão de determinados modelos tem a ver com a anatomia, o prato para comer alcachofra tem uma concavidade no centro para encaixar melhor o alimento – e por aí vai.

Costumo afirmar que se determinada  regra  complica a vida geralmente  acaba caindo em desuso. Ou nunca foi regra de fato. Se aquela é uma situação desconhecida para você use o bom senso: faça o que você acha que deve fazer. Em geral funciona e é isso mesmo…

Naturalidade – justamente por ser uma ferramenta para facilitar a vida é que a etiqueta se baseia também em naturalidade. Não sabe? Pergunte. Sempre haverá alguém que terá prazer me ajudar. É infinitamente melhor do que fingir que sabe algo que não sabe. Seja natural. Vista-se de maneira natural. E aja naturalmente. Sempre  melhor do que forçar e pagar mico.

Afetividade – em um mundo cada vez mais orientado por dinheiro e individualismo, incorporar uma atitude atenta e afetiva só pode ajudar. Perca alguns segundos para lembrar o nome das pessoas, se tem ou não filhos, ouvir sobre eles etc. Isso é só um exemplo, mas existem infinitas maneiras se demonstrar afeto e acolhimento. A primeira etapa dessa afetividade plena é assegurar-se de que  os outros estejam fisicamente confortáveis. Por isso oferecemos um café ou água, convidamos as pessoas a sentar etc. A segunda etapa (que exige um certo tato e que ninguém se lembra)  é garantir as pessoas  conforto emocional.

Isso significa não constranger o outro ou criar situações difíceis, em suma: acolher da melhor maneira e  não abusar emocionalmente dos outros.

Não se trata de ter, e sim ser –  ter etiqueta independe de de se ter ou não dinheiro. A Etiqueta tem a ver com atitude e valores e não  com dinheiro e  marcas de luxo. E por falar em Luxo: hoje, o conceito de luxo evoluiu: se nos anos 30 tinha a ver com espaços maiores e serviços especiais, e nas últimas décadas o boom de grifes caríssimas inundou o mercado com produtos banais mas caríssimos, hoje, há um consenso de que o verdadeiro luxo está na experiência. No desfrute de uma certa exclusividade e no privilégio das peças únicas.

Tudo isso, de preferência  usando materiais reciclados ou com upcycling de outros. Há uma consciência de sustentabilidade que é  muito mais importante do que se exibir usando o logo de um produto industrializado, distribuído em massa por todo o planeta. Por mais caro que seja, isso é  bobagem ultrapassada. Pense nisso.




A diferença entre ser caro e ter valor

Em meio a marcas de luxo, experiências exclusivas e ostentação nas redes sociais, tornou-se comum confundir o que é caro com o que tem valor. No entanto, essa distinção vai muito além do preço — é uma questão de comportamento, percepção e propósito.

Ser caro está ligado ao custo, ao que exige investimento financeiro. Um item caro pode impressionar por sua exclusividade, mas não necessariamente desperta admiração genuína. Já, ter valor é algo que transcende o material: está na forma como algo — ou alguém — nos toca, inspira e deixa marcas positivas. É o gesto atencioso, a palavra dita na hora certa, o profissionalismo silencioso que transmite confiança.

No convívio social e profissional, essa diferença é essencial. Pessoas “caras” buscam status e reconhecimento rápido; pessoas “de valor” cultivam respeito e credibilidade.

A etiqueta moderna, longe de ser um conjunto de regras rígidas, convida à autenticidade e à coerência: a verdadeira elegância está em ser gentil, pontual, empático e discreto — atributos que não têm preço –  mas revelam muito sobre o caráter.

No consumo, o mesmo princípio se aplica. Comprar algo caro pode satisfazer momentaneamente o desejo de pertencimento, mas escolher algo de valor é investir em qualidade, durabilidade e significado. O que tem valor permanece, evolui com o tempo e se torna parte de quem somos — seja um objeto, uma amizade ou uma reputação.

Ser caro é questão de bolso; ter valor é questão de essência. E, no fim das contas, o que realmente distingue uma pessoa elegante é sua capacidade de agregar — não pelo que ostenta, mas pelo que entrega em presença, palavra e atitude. O verdadeiro luxo é ser lembrado não pelo preço do que se tem, mas pela qualidade do que se é.




Mulheres — Sororidade além do discurso

É um tema delicado — e urgente. Afinal, se somos abrigo umas das outras, por que ainda encontramos tantas portas fechadas?

Mais do que um slogan bonito – é uma prática cotidiana de empatia, respeito e acolhimento. É olhar para outra mulher sem medir sua roupa, seu corpo ou suas escolhas. É entender que a conquista de uma não ameaça a outra — ao contrário, abre caminho. Ser solidária não significa concordar com tudo, mas saber discordar sem ferir, competir sem desmerecer e admirar sem invejar.

Etiqueta e comportamento – isso se traduz em gestos sutis, mas poderosos: não propagar comentários maldosos, dar crédito a outras mulheres, elogiar com sinceridade, oferecer ajuda sem esperar retorno. São atitudes que transformam ambientes de trabalho, grupos de amizade e até redes sociais em espaços mais saudáveis e respeitosos

O desafio –  romper padrões antigos, enraizados em séculos de competição imposta. A sociedade ensinou as mulheres a disputarem atenção, validação e poder. Mas estamos em um tempo em que apoiar tornou-se um ato de resistência — e de elegância. Quando uma mulher se posiciona com empatia, ela não apenas se fortalece, mas inspira um movimento inteiro de mudança.

Talvez o “quando isso vai mudar?” dependa menos do tempo e mais de cada uma de nós. Sororidade começa em gestos simples, no silêncio que escolhe não julgar e na palavra que escolhe encorajar. Mulheres, sejamos abrigo. Porque quando nos apoiamos, não apenas nos protegemos — nós florescemos.




Presentes que (quase) sempre agradam

Temos as compras online, os vale presentes (de quase tudo), presentes de assinaturas de “experiências” como degustações e cursos rápidos, uma enorme lista de contatos comerciais no WhatsApp que podem nos mandar em casa o que quer que seja, e – o mais importante – o PIX, que é coisa nossa e facilita tudo isso a 3 cliques.

A notícia não tão boa – para presentear alguém com sucesso precisamos sim, investir um certo tempo e carinho para lembrar e/ou descobrir o que realmente agrada aquela pessoa. E, com a rapidez dos acessos das redes sociais temos perdido esse discernimento, pois esse tipo de percepção se adquire com a convivência ao vivo. E aqui vai a primeira dica de presente para pessoas muito especial como mães, companheiros, amigo queridos que vemos pouco… Presenteie com “tempo”, a comodity mais bem cotada ultimamente.

Um combo de programa a dois ou em família com direito a esticada: almoço em um restaurante gostoso seguido de cinema. Ou teatro seguido de jantar. Ou jantar na sua casa (só poucos) seguido de um bom filme (que você  saiba que a pessoa ama) terminando com uma lembrancinha fofa. Ou mesmo uma tarde em um spa cm direito a lanche e muita  conversa. Esse tipo se coisa, garanto, lava alma, reenergiza e nunca se esquece.

Presentes curingas – ok, você  quer dicas mais práticas e super entendo então  vamos a elas. Para pessoas  com quem não tem muita intimidade – mas que intui a preferência – presenteie com os clássicos: bebidas como vinhos ou cachaças premium, caixas de chás aromáticos chocolates, latas lindas de biscoitos deliciosos e duradouros, panetones especiais, uma cesta com tudo isso. Aí vai do bolso também. Flores como presente de Natal, apenas no caso de ser convidado e querer fazer um agrado a dona/o da casa. E ainda assim, mande em vaso e na véspera.

Sachês, sabonetes, cheiros de casa e colônias – uma grande pedida. A saboaria de luxo chegou ao Brasil e os preços desse itens são mais em conta, as embalagens lindas e vistosas e todo mundo ama um paparico perfumado. Até pouco tempo atrás era considerado inconveniente presentear com perfumes, pois as essências eram mais fortes e muito pessoais. Hoje, com a imensa variedade de colônias, mais leves e versáteis, criou-se o hábito de ter e usar mais de um aroma e as colônias, por serem mais leves, quase sempre  agradam.

Livros – embora poucas pessoais ainda cultivem esse hábito, os que leem, amam ganhar livros.

Finalmente, não importa o valor do presente. Não mesmo. O gesto e o fato de sermos lembrados em tempos de tanta pressa já vale por si. Mas a embalagem tem que ser caprichada. Não me refiro a toneladas de papel e sim, a um bonito laço ou um cartão carinhoso acompanhando. É, dá um certo trabalho. Mas essa é a essência de presentear. Sem falar que compensa ver o prazer no sorriso e olhar de quem descobre, ao abrir o pacote, que não apenas lembraram dele, mas que, aquela pessoa o entende e conseguiu realmente agradar com um gesto tão simples.