Pitaco Visual além da Moda

“Moda brasileira” na UTI

em um quarto de hospital envidraçado, uma modelo vestida de enfermeira, com cabelos presos e touca e tudo, se debruça sobre um paciente deitado em cama hospitalar com cabeceira de metal. Ele está com o torço nu olhando para lente aparentemente agonizante.
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em um quarto de hospital envidraçado, uma modelo vestida de enfermeira, com cabelos presos e touca e tudo, se debruça sobre um paciente deitado em cama hospitalar com cabeceira de metal. Ele está com o torço nu olhando para lente aparentemente agonizante.

Década de 1970 : a moda feita no Brasil explodia com marcas que faziam sucesso e vendiam muito como Gledson (uma mania nacional), Staroup, Yes Brasil, Company, Imperchic, Pull Sport, Lastri, Rurita, Atelier Parisiense – e tantas outras que mal davam conta de produzir o que era consumido.

Dezenas de costureiros ( e até centenas ) alimentavam o mercado de luxo, com tecidos nacionais, mas que acompanhavam os passos da moda internacional.

Nos anos 1980 – fabricantes de jeans e camisetas resolveram ser japoneses e belgas em seus produtos, influenciados por jornalistas de moda que, de mercado, entendiam tanto quanto da fabricação de biscoitos dietéticos.

Donos de fábricas, resolveram ser estrelas e “criadores”. O resultado foi o desaparecimento de maioria delas e também da nossa indústria têxtil, com importantes fábricas tradicionais fechando suas portas.

A moda mudou – e com ela vieram tecidos criativos e preciosos, não mais encontrados por aqui, obrigando nossos estilistas a procurar e achar somente nos importados, aquilo que precisam para que suas criações possam, pelo menos, acompanhar o que se faz no mundo.

Sem matéria prima, sem modelistas qualificadas, sem costureiras e mão de obra bem preparadas, sem aviamentos adequados às novas tendências, encalhamos em pretensões “conceituais”.

Enquanto se fala do “sucesso” da moda brasileira lá fora – uma mentira facilmente comprovada por números, nunca se viu uma invasão tão grande de produtos estrangeiros como agora. E continuamos a patinar, estimulados por Maries Rukis, “pensadores” e jornalistas que aqui desembarcam, regiamente pagos por aqueles que imaginam que filosofia e “pensar em moda” são a solução para a crise que se instalou – com o estabelecimento, não só de grifes internacionais sofisticadas e caras, como até populares, mas modeiras, como Zara e Topshop.

Buraco da agulha – é mais embaixo: há quem culpe os “altos impostos” (como se a mercadoria que chega, não pagasse exorbitâncias na importação). Mas, na verdade faltam investimentos de base, como em nossas “faculdades” de moda. Sim pois, por uma pernóstica pretensão das pedagogas do MEC, colocaram a moda sob as asas do “design” – coisa completamente sem cabimento!

Assim, as Faculdades de Moda são obrigadas a ministrar disciplinas totalmente desnecessárias para nossos futuros estilistas, ocupando o espaço que seria devido à modelagem, costura, engenharia e desenvolvimento do produto.

Alhos com bugalhos – agora, pasmem – querem colocar o que, como bem disse Karl Lagerfeld, é artesanato, como “cultura” para obter financiamentos da Lei Rouanet. Triste:mais uma vez, nosso dinheiro será aplicado em inutilidades e o resultado será, como sempre, inevitavelmente, nulo.

 

 

 

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1 Comentário

  • Responder
    Aline Odriosolla
    17/07/2015 as 12:02

    Realmente… A gente não pára para pensar em como consumimos importados. A maior parte das lojas populares vendem produtos fabricados na China. E outras tantas lojas (não tão populares assim, mas com grande público) também não são brasileiras.

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