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Desabafo de Madame

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Foi perto dos 40 anos que percebi que era inútil negar que era madame. Afinal, ser Madame não é necessariamente ruim, certo? Com a pandemia, algumas pessoas nas redes sociais voltaram a me chamar de Madame (principalmente quando me manifesto contra o presidente, como se seus apoiadores fossem todos descamisados).

Acredito que “nascidas no privilégio”, tem obrigação de cultivar e desenvolver melhor a responsabilidade social. Por isso, não me envergonho de ser Madame.

Assim que foi declarada a quarentena, dispensei minha funcionária com salário integral pago, claro. Sou Madame.

Me encantei em dar conta de todo o serviço da casa e até mesmo estabelecer uma nova rotina onde não me entediava – não dá tempo. Madame com a barriga no tanque pensava em ajustar seu conteúdo de cursos para o novo normal – e com isso já se foram 3 meses. Madame está meio falida (como tanta gente) mas aguentando…

Pertencendo ao grupo de risco e com uma mãe de 90 anos. Não me atrevi a ir distribuir máscaras e cestas básicas em Heliópolis. Participei ativamente de uma ação que, entre outras coisas arrecadou mais e levou mais de 5.000 cestas e 10.000 máscaras para nossa maior comunidade em Sampa.

 

Da janela – já fiz muito minha parte em manifestações quando jovem, hoje faço isso através da minha profissão e em minhas mídias. Massss… assisto de camarote, como boa Madame, a todas – TODAS as manifestações das ruas uma vez que minha janela está a apenas 50 metros da avenida Paulista, onde acontecem.

Isso me deu uma percepção bastante apurada do perfil e caráter dos manifestantes/atos – sejam eles de qual ideologia forem. Percebemos pelo tom de voz, a cor das camisetas, os slogans gritados, número de participantes e tempo de duração dos atos.

No último ato, a favor das Vidas Negras, espelhado nas manifestações ocorridas nos EUA constatei o seguinte: enquanto nos EUA e no mundo as manifestações foram imensas e com muitas pessoas brancas – algumas até em maioria – aqui havia poucos brancos e os atos forram muito menores…

O Brasil foi o país que mais importou pessoas escravizadas da Africa: entre o descobrimento em 1500 e a lei Áurea, importamos mais de 4,9 milhões de escravos no infame comércio transatlântico da época.

A pouca adesão de brancos aos atos foi porque está tudo azul no País tropical ou por que a elite branca não está nem aí para a causa? Madame aqui está perplexa.

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2 Comentários

  • Responder
    Esmeralda Izabel da Silva Souza
    15/06/2020 as 00:42

    Adorei a sua observação em relação ao números de brancos na manifestação. O problema é que a nossa populacapopulação é a maioria negros e descendentes e ñ gostam de se expor.

  • Responder
    Márcia Regina de Souza
    15/06/2020 as 06:09

    Comecei a te seguir após a Pandemia, me inspirou.no seus posicionamentos, embora eu não seja uma Madame,também me vejo em privilégios e numa angústia por pouco estar devolvendo ao mundo.

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