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Legados da emigração – nossa riqueza imaterial

Brasil. País rico e diverso. Rico em sua paisagem, terras, costa, dimensão – tudo é exuberante aqui. Principalmente nossa vocação para festas e acolher pessoas. Não é um talento gratuito, brota porque nascemos em terras abençoadas por Deus!

Estudei em uma escola para  filhos de funcionários de empresas multinacionais de todas as origens. Convivíamos, além dos brasileiros oriundos de famílias italianas e árabes – nossas colônias mais numerosas – com chineses, suecos, ingleses, espanhóis, indianos, japoneses…

Isso me deu uma percepção abrangente do comportamento. Hoje, ao ver a onda de valorização tanto da nossa casa quanto do “Receber em Casa”, me ocorre que, a primeira recepção da qual participamos é o nosso nascimento. Somos todos oriundos de uma família que carrega valores e, por sua vez  está inserida em uma comunidade maior,  muitas vezes com culturas diversas.

Recebemos, desde o nosso nascimento, legados de nossos antepassados. Heranças emocionais e materiais  transmitidas de pais para filhos nesta cadeia Inter geracional – que acaba encontrando seu lugar.

Vejam o exemplo da historia de Susie, minha amiga desde sempre – e uma das anfitriãs mais queridas aqui de Sampa. Ela tem origem com suas avós: Isa e  Fanny, mulheres refinadas que aqui chegaram fugindo do holocausto europeu.

Já aqui, Fanny se adaptou – e fez com que  a filha, chegada ainda na primeira infância, sentisse que pertencia sim a esse novo país, acolhida por uma comunidade que, por sua vez trazia de além mar outras tradições – criando um interessante mix de rituais no novo cotidiano.

Aliás, o que é pertencer? Talvez seja, em parte, a conquista de um sentimento de identidade com nossas origens, nossa ancestralidade e nossa cultura. Alice, a mãe de Susie, guardou e passou adiante não somente as tradições do bem receber, como, sobretudo, um pouco da nostalgia que sua mãe trouxe da velha Europa, lugar de tantas lembranças.

Receber Bem vai além de colocar uma linda mesa e preparar um farto jantar: estamos falando de acolhimento, do prazer de planejar encontros e  desenvolver  vínculos duradouros de prazeres compartilhados.

Esse gesto, vai além do luxo e do refinamento – passa pela afetividade e pela criação – posto que colocamos em cada encontro um pouco de “nossa história” mostrando o quanto os nossos legados se fazem presentes na riqueza do acolher.

Mesmo um café com broa reflete a forma como dedicamos tempo e espaço para que o encontro aconteça. Daí a  importância dos legados trazidos aqui pelos imigrantes.

Aprendemos com cada relato e/ou lembrança que existe um anfitrião guardado em cada um de nós – que aflora  no momento em que abrimos além da casa, a porta do coração, liberando espaço para que caminhe com  leveza entre  nossos melhores momentos.